domingo, 4 de abril de 2010


Os sobreviventes- Caio Fernando Abreu

"Não que fosse amor de menos, você dizia depois, ao contrário, era amor demais, você acreditava mesmo nisso?[...] Eu só queria era ser feliz, cara, gorda, burra, alienada e completamente feliz.[...] Mas não te preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais autodestrutiva do que insistir sem fé nenhuma?[...] Eu tive tanto amor um dia. [...] Que aconteça alguma coisa bem bonita com você, ela diz, te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o que, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo outra vez, que leve para longe da minha boca este gosto podre de fracasso, este travo de derrota sem nobreza, não tem jeito, companheiro, nos perdemos no meio da estrada e nunca tivemos mapa algum, ninguém dá mais carona e a noite já vem chegando. [...] Consigo ouvi-la repetindo e repetindo que tudo vai bem, tudo continua bem, tudo muito bem. Axé, axé! eu digo e insisto até o elevador chegar axé, axé, axé odara.

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